quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Praia gaudéria


Tá certo, a noite é linda. Mas descer a Serra do Umbu depois do pôr do sol não é uma tarefa agradável. Por isso, vamos andando!...

De dia, a estrada de terra batida serpenteia montanha abaixo, contornando abismos, grudada em paredões. Pedras aqui e ali tornam a pilotagem mais difícil. A dificuldade faz a gente quase parar. E a paisagem paralisa.

A motinha vai avançando devagar, som de trator em suas seiscentas cilindradas de um caneco só, sem titubear. Uma curva à direita, e o que era paredão se transforma em garganta. O passo largo, profundo da escarpa que se projeta até o rio, no vale íngreme e inóspito.

Uma curva à esquerda e parei. Folhagens gigantescas se projetavam sobre a pista, árvores se entrelaçavam na galhada alta, desenhando uma rede de sombra no chão poeirento. A parede úmida, plena de sambambaias e flores. Um cipó escorrendo. Parasitas embelezando árvores velhas e carente de folhas. Um lagarto cruza correndo o caminho. Uma aranha aguarda. Silêncio e pássaros.

Na mata fechada que cobre a encosta, a gente adivinha mas não sabe a animalhada caçando e fugindo, a vida pulsando.

Tiro o capacete. Vinha por São Francisco de Paula em direção a Canela, depois de uma parada obrigatória no Café Tainhas. Deixei Cambará pra outro dia, e segui para a mata do Ibama, rumo ao mar. De início, a estranheza do piso. O asfalto fica pra trás, e a terra se mistura à vibração da Ténéré, e o corpo vai sacolejando até se acostumar no trote novo.

A terra dura do princípio vai cedendo ao piso mais macio, mais fofo. Os pedriscos desaparecem e pedras maiores vão pontuando aqui e ali o caminho. Qualquer vento, qualquer veículo, e a poeira se levanta.

Olhos atentos na estrada. A moto firme. A descida. E o que era reto vira sinuoso.

A mesa dos Campos de Cima da Serra vai-se ondulando, as ravinas e coxilhas se apresentando. A dobradura da terra se acentuando em descida. E a moto mergulha na montanha, em suas veias abertas.

Uma hora, duas horas a vinte por hora. E o sol se pondo atrás de mim, levantando as sombras da noite das profundezas do dia. O sol no retrovisor, caindo, caindo...

E chega Terra de Areia, prenúncio da Estrada do Mar.

Cruzo a 101, sempre congestionada, já com o sol virado em nesga de luz.

E na rodovia de asfalto macio, quase sem ninguém, percebo a brisa fria entrando pelo capacete, por entre as frestas da roupa, acariciando o corpo e secando o suor. A noite se anuncia, ao mesmo tempo em que o mar se apresenta.

Entro pela avenida das Gaivotas, cruzo o portal de Capão Novo, e sigo em busca da avenida Paraguassu, atrás de um bar, ou restaurante, ou padaria. E depois, de um hotel.

O bar estava aberto. Uma lancheria verde, perto da escola e da rodoviária. Mas o hotel não existe.

Volto pra estrada e sigo pra Capão da Canoa.

O mar agora brame sua sinfonia noturna, estilhaçando ondas em pedras e na areia. Não há gente andando. Não há namorados desfilando enlevo. O frio aumenta.

É verão, mas nestes pagos o vento da noite sempre refresca, e perto do mar a brisa é fria. Na moto, cada dez quilômetros por hora de velocidade significa sensação de queda de um grau centígrado na temperatura. Fazia uns vinte graus. Andava a sessenta. A sensação beirava os quatorze graus.

Acelerei e entrei na cidade.

No dia seguinte, iria à praia, conhecer aquele rincão. Naquele momento, só queria um hotel. Pra descansar a cabeça e ruminar as paisagens da Serra, embaladas no ritmo forte da motocicleta.

(Jake)

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Teste

Testando o blog dos Corujões!